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domingo, 13 de junho de 2010

O primeiro de muitos

Mais de 1,5 mil pessoas se reuniram na terça-feira (8), em uma noite muito fria, para protestar em Ponta Grossa contra a corrupção instalada na Assembleia Legislativa do Paraná. A mobilização ocorreu na Rua Benjamin Constant, no Parque Ambiental, e contou com a presença de representantes de pelo menos 30 entidades entre sindicatos, associações comerciais, igrejas, organizações não-governamentais e movimentos estudantis.
A principal exigência foi o afastamento da Mesa Diretora da Assembleia, especificamente do presidente Nelson Justus (DEM) e do primeiro secretário Alexandre Curi (PMDB), acusados de envolvimento no esquema que pode ter desviado mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos, segundo estimativa do Ministério Público Estadual.
Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), instituição que foi a maior responsável pela mobilização, o protesto atingiu seus objetivos, demonstrando que a sociedade pontagrossense está atenta aos assuntos políticos e determinada a dar um basta nos desmandos cometidos pelos representantes eleitos.
Para o presidente da OAB, subseção de Ponta Grossa, Luiz Alberto Kubaski, o mais importante do protesto é que ele tenha a repercussão necessária e que todas as irregularidades sejam apuradas. “Conseguimos reunir muitas pessoas, mesmo com o frio que estava fazendo. Agora temos de exigir que todos os problemas relacionados ao desvio de dinheiro na Assembleia sejam apurados e que os responsáveis sejam punidos pela Justiça. Além disso, é essencial que os recursos públicos que foram roubados voltem para os cofres públicos e que isso seja investido devidamente em saúde, educação, segurança e outros setores”, afirmou.
O porta-voz do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral em Ponta Grossa, professor Sérgio Gadini, fez uma avaliação positiva do movimento. “Conseguimos a adesão das mais diversas entidades que se fizeram representar no protesto. Fazer isso tendo em vista a defesa do dinheiro público é o que mais nos impressiona. Isso mostra a legitimidade do movimento”, salientou. De outro lado, Gadini fez questão de frisar que não se trata de atacar o Poder Legislativo Estadual, mas de fortalecer a instituição. “Não é possível que a Mesa Diretora continue atuando, sob pena de prejudicar as investigações. Se eu fosse dirigente de um partido, exigiria que os envolvidos nos escândalos fossem afastados, tendo em vista principalmente que é um ano de eleições”, sugeriu.

ACIPG
Outra instituição que se destacou na luta dos pontagrossenses contra a corrupção foi a Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG). O presidente da entidade, Marcio Pauliki, destacou a união das pessoas em torno de um objetivo comum e disse que o protesto foi o primeiro de uma série de eventos programados tendo em vista a defesa dos interesses da população, a boa aplicação do dinheiro público e as eleições deste ano. “A manifestação foi um sucesso. Reunir mais de 1,3 mil pessoas numa noite como a que houve, com muito frio, realmente mostrou a indignação dos pontagrossenses contra os desmandos que vimos acontecer na Assembleia. No site O Paraná que queremos, Ponta Grossa é a primeira cidade do interior com número expressivo de adesões. Foi uma grande conquista. As pessoas que participaram sabiam o motivo pelo qual estavam ali, não foram por causa de shows ou outro atrativo, queriam mesmo mostrar que estão preocupadas com o futuro do Paraná e da nossa cidade”, destacou.

REIVINDICAÇÕES
Levando em conta a boa participação da população e das entidades de Ponta Grossa no protesto por mais transparência na política e pela punição dos culpados pela corrupção, a ACIPG pretende fomentar a criação de um conselho de instituições na cidade para pautar os políticos e candidatos que pretendem buscar o voto dos pontagrossenses. “Nós temos várias bandeiras e vamos fazer uma reunião com todos os representantes de partidos que têm candidatos em Ponta Grossa. Nesse encontro vamos pedir o comprometimento desses candidatos com as demandas que temos, como o aeroporto, a criação da Macrorregião dos Campos Gerais, entre outros projetos. Também no próximo dia 20 pretendemos reunir o Conselho de Entidade para elaboração destas propostas. Assim, teremos como fiscalizar e cobrar estes compromissos assumidos após as eleições”, destacou Pauliki.


Nossa opinião

Após a redemocratização do país, alguns episódios marcaram a história da vida política brasileira no que diz respeito a participação maciça da comunidade em reivindicações. O de maior relevância e alcance foi quando os estudantes, trabalhadores e a sociedade civil organizada literalmente “pintaram a cara” e foram para as ruas pedir o impeachment do primeiro presidente eleito após o período em que o Brasil foi governado pela ditadura militar. Depois do clamor popular, Fernando Collor de Mello renunciou ao mandato, mas não escapou do processo que o deixou inelegível por oito anos. Ainda que tenha retornado ao Senado posteriormente, o episódio praticamente sepultou qualquer aspiração maior deste político.
Recentemente, a população de Brasília voltou a se indignar e exigiu a saída do governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda, resultando na cassação do mandato pelo Tribunal Regional Eleitora do DF após várias denúncias de recebimento de propina para facilitar desvios de recursos públicos.
No entanto, em outro momento, a opinião pública se mostrou apática ao não se manifestar de forma contundente, permitindo que as irregularidades descobertas na gestão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), passassem em branco. Até hoje o quadro permanece inalterado, mesmo com a confirmação de mau uso do erário.
Desse modo, o que se pode esperar da movimentação da sociedade no Paraná, no caso dos Diário Secretos e funcionários fantasmas, é a eliminação completa deste sistema viciado que se implantou na Assembleia e que perdura por mais de uma década, com a devolução do dinheiro público e a punição exemplar dos culpados.
Política - Ismael de Freitas - Especial para 'O Portal' - 13/06/10

Protesto da última semana reuniu 1,5 mil pessoas e fez parte da programação de eventos realizados por entidades que exigem a moralidade na política paranaense e boa aplicação do dinheiro público
Fonte: Jornal 'O Portal' - PG, 13 a 19/06/10.

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